sábado, 24 de março de 2018

Zembrin, uma planta esquecida com suposto efeito relaxante e nootrópico. O que a ciência diz?

Planta está "na mira" dos cientistas por sua ação peculiar tanto no humor quanto a cognição


Sceletium tortuosum é uma planta nativa do sul da África e, há séculos, é usada como um psicotrópico. Mas foram nos últimos 15 anos que a planta tem atraído considerável atenção porque, supostamente, teria a habilidade de promover uma sensação de bem-estar e aliviar o estresse em pessoas saudáveis [2].

Em ensaios clínicos [3, 4], voluntários saudáveis usando Zembrin, um extrato padronizado dessa planta, relataram sentimentos gerais de bem-estar e bom humor. Eles também relatam sentimentos de "alto astral", melhor qualidade de sono (ainda que sem nenhum problema de sono prévio) e uma melhora na capacidade de lidar com situações estressantes.


Comercial de Zembrin
Além de afetar o humor, pesquisadores [3] demonstraram que 25 mg de Zembrin, por 3 semanas, melhorou significativamente o intelecto de 21 pessoas saudáveis comparado ao placebo. O extrato aumentou o desempenho em testes que avaliavam as funções executivas - que incluem processos cognitivos como memória operativa, controle da atenção, inibição de distrações, formulações de conceitos, entre outros.

Como age?
Sabe-se que, tal como muitos antidepressivos, alguns princípios ativos da planta inibem da receptação de serotonina, aumentando a disponibilidade desse neurotransmissor nas sinapses nervosas. Isso pode ajudar a esclarecer alguns dos efeitos no humor e na ansiedade. Mas essa é de longe a ação do Zembrin que mais chama a atenção. 


Ele também promove a inibição, nos neurônios, de uma enzima chamada fosfodiesterase 4 (PDE4). Inibidores da PDE4 são cada vez mais pesquisados como melhoradores cognitivos. A inibição dessa enzima leva a um aumento do AMP cíclico, um mensageiro intracelular. 

Assim, engatilha uma cascata de reações químicas que tem como fim a transcrição de genes importantes para a plasticidade sináptica, saúde neuronal e formação de memórias de longo prazo. O disparo dessa via está associada à melhora cognitiva [5].

Além disso, o Zembrin reduz a reatividade da amígdala - o centro do "medo" no cérebro e implicado em quadros de ansiedade quando hiperexcitada [5].  Estudos demonstraram que o Zembrin é bem tolerado em pessoas saudáveis [34] - inclusive com efeitos adversos mais frequentes no grupo que usou placebo que no grupo que usou o Zembrin. 

O seu uso deve ser orientado por um médico. Também é bom esclarecer que nenhum estudo analisou, até hoje, os efeitos dessa planta em pacientes com alguma condição psiquiátrica.

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Referências
  • [1] Pappe L. 1868Florae Capensis Medicae Prodromus. An Enumeration of South African Indigenous Plants used as Remedies by the Colonists of the Cape of Good Hope3rd edn.W Brittain: Cape Town, South Africa
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