terça-feira, 29 de setembro de 2020

Cochilo cafeinado (caffeine-nap): combo de café e soneca pode recuperar energia e alerta, avaliam estudos



Pode soar familiar. Você acordou cedo. Está no meio de um dia exaustivo de trabalho (quem sabe, em home office) ou de estudos. Com a fadiga cognitiva se acumulado, sua mente já está operando em marcha lenta. O que fazer para revitalizar-se rapidamente e recuperar a disposição, o alerta e a atenção que o restante do dia exigirá?

Uma xícara de café?
Um cochilo rápido?

De acordo com a ciência, nem um, nem outro: você deve tentar os dois. Estudos indicam que o meio mais vantajoso para restaurar os níveis de energia e disposição é tentar um "cochilo cafeinado" (do inglês caffeine-nap).

O que é o cochilo cafeinado?
A ideia que os cientistas estão pesquisando é a seguinte: tomar a cafeína (ou alguma fonte do estimulante, como o café) imediatamente antes do cochilo. E esse cochilo deve ser do tipo power-nap: um sono curto. Estamos falando de dormir por não mais que 15 a 20 minutos. 

O tempo importa: se você pregar os olhos por mais tempo que isso, corre o risco de entrar em fases mais profundas do sono. Evita-se, assim, acordar grogue ou com sensação de "ressaca". Colocar um alarme pode ser uma excelente ideia. 

Além disso, os efeitos da cafeína no alerta e atenção tornam-se mais evidentes 20 a 30 minutos após seu uso - coincidindo com o momento em que você desperta.

Experimentos afirmam que o cochilo cafeinado é melhor que o café ou a soneca isoladamente

Em 1997, dois pesquisadores examinaram os efeitos da cafeína e da soneca em um pequeno grupo de pessoas sonolentas e as dividiram em: 1) quem usou 200 mg de cafeína (no café), 2) quem usou um café descafeinado (placebo), 3) quem apenas cochilou, 4) quem cochilou e usou 200 mg de cafeína logo antes [1, 2].

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Perfil: Semax - o que é, para que serve, mecanismos de ação, estudos sobre eficácia e segurança


O que é o Semax?
O Semax é uma molécula fabricada em laboratório, ou seja, não existe na natureza. Ele é considerado um neuropeptídeo. Isso significa que é um peptídeo (conjunto de aminoácidos) que afeta o sistema nervoso central. Não é disponível no Brasil para uso humano, não tendo sido avaliado pela Anvisa.

É vendido na Rússia como medicamento para o tratamento de problemas neurológicos e cognitivos. Pesquisadores russos alegam que a substância é um nootrópico - isto é, que amplia as capacidades cognitivas e protege o cérebro. Mas poucas evidências estão disponíveis para comprovar essas alegações. Mesmo assim, em websites norte-americanos, entusiastas de nootrópicos chegam a elogiar o Semax como "o caviar dos nootrópicos russos".

Confira o que a ciência diz sobre essa substância.

ATENÇÃO: esse artigo não promove nem endossa o uso de Semax, que não é registrado na Anvisa. O objetivo é apenas discutir o que se conhece a respeito dos seus efeitos.

Relação com o ACTH
O Semax foi desenvolvido tendo como base a molécula do hormônio adrenocorticotrófico (ou ACTH) [1]. Esse hormônio, que ocorre naturalmente em nosso corpo, é formado por 39 aminoácidos - unidades que ligam-se como blocos de Lego para montá-lo. O Semax é fabricado como um análogo de um fragmento inicial da molécula de ACTH - os aminoácidos 4 a 10. 

No desenvolvimento do Semax, modificações no fragmento original 4-10 do ACTH foram realizadas, de modo a garantir resistência contra a metabolização. Com isso, o Semax tem um tempo de atividade mais longo (cerca de 20 vezes maior) in vivo que o fragmento original de ACTH.

Compostos com essas características - análogos do fragmento inicial de ACTH - são considerados por autores russos como "bem reconhecidos por suas potentes atividades neuro-restauradoras e atividades cognitivas" [1] [2]. 

Assim, a busca por moléculas com essas qualidades - que ajudassem a regenerar o tecido nervoso lesionado ou a melhorar as capacidades intelectuais - levou à criação do Semax e incentivou as pesquisas em torno dessa substância.

Na avaliação dos pesquisadores russos, o Semax tem "profundos efeitos no aprendizado e exerce pronunciadas atividades neuroprotetoras" após a aplicação intranasal.

É importante notar que o Semax não tem atividade similar ao ACTH. Apesar da sua semelhança estrutural com um fragmento do ACTH, o Semax é "completamente destituído de qualquer atividade hormonal associada com a molécula inteira de ACTH" [1].

Usos aprovados

Na Rússia, o Semax é aprovado como fármaco. Ele é o composto ativo de drogas intranasais "Solução de SEMAX-0.1%" e "Solução de SEMAX-1.0%", de acordo com a concentração. Esses medicamentos são indicados para o tratamento de traumas cerebrais, infartos e insuficiência circulatória e também para "melhorar as habilidades de aprendizado e formação de memória" [1].

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Entrevista sobre a sulbutiamina, um nootrópico anti-fadiga, com Bernardo Starling

"Sulbutiamina: 'mãozinha' do astênico". A sulbutiamina é indicada para a astenia - ou exaustão - física, psíquica e intelectual


Entre as substâncias que supostamente melhorariam o desempenho cognitivo, a sulbutiamina ocupa lugar de destaque. Isso porque, devido às suas propriedades psicoestimulantes, a sulbutiamina conseguiria debelar um dos principais rivais dos tempos modernos: a falta de vigor e a exaustão. No Brasil, esse composto é um medicamento de nome comercial Arcalion indicado para o cansaço físico, psíquico e intelectual, segundo a bula.

A bula do fabricante ainda garante que a sulbutiamina "atua no sistema nervoso central e neuromuscular, agindo como fator natural de resistência física, de eficiência intelectual e de equilíbrio psíquico". Bom demais para ser verdade?

Para avaliar essas alegações, pesquisadores recentemente publicaram uma revisão científica sobre a sulbutiamina no Journal of Nutrition and Metabolism. No resumo, eles afirmam que "existe alguma evidência que a sulbutiamina possa ter efeitos anti-fadiga, nootrópicos e antioxidantes, o que levou ao seu uso como suplemento esportivo".

Recentemente, tive o prazer de entrevistar um dos autores, o nutricionista Bernardo Starling, a respeito de seu trabalho sobre a sulbutiamina. Bernardo Starling é formado em Nutrição, pós graduado em Nutrição Ortomolecular e Nutrigenômica e Mestre em Bioquímica (UFPR). Professor e pesquisador, o profissional mantém ainda um consultório, onde presta atendimento nutricional, com foco, principalmente, para atletas em busca dos melhores resultados em competições.

Starling avalia que a sulbutiamina tem potencial para trazer "melhora na qualidade e fixação do raciocínio". Além disso, após sua pesquisa, considera que a substância é promissora para "diminuir a fadiga de quem tem uma carga mental e cognitiva muito grande em seu dia a dia". Os autores do estudo observam, contudo, que novos estudos precisam ser conduzidos para esclarecer e confirmar o potencial da sulbutiamina.

Lembrando que, no Brasil, ela é considerada medicamento - e por isso, seu uso deve ser indicado por um médico. Não se automedique.

Confira a entrevista completa abaixo:

sábado, 12 de setembro de 2020

Noopept: O Que é, Para que Serve, Funciona? E Quais os Efeitos Colaterais?

Reprodução de tela de website brasileiro de farmácia de manipulação que comercializa Noopept

"Noopept: concentração, memória, neuroprotetor, cognição e aprendizado", anuncia, em uma página de vendas, uma farmácia de manipulação de Santa Catarina (SC). "Noopept: melhora do aprendizado e memória, potente neuroprotetor, efeito nootrópico", alega outra empresa do mesmo ramo, também de SC, num folheto informativo publicado online.

Na Rússia, o Noopept é comercializado para tratar um amplo leque de doenças que causam problemas de memória, atenção ou condições que, genericamente, manifestem "sinais de decréscimo da produtividade intelectual". Num anúncio publicitário, os russos afirmam que o Noopept "ajuda a preservar não só uma excelente memória, mas também uma mente afiada".

Na Rússia, anúncios publicitários afirmam que o Noopept - foto do medicamento acima - ajudaria a preservar uma "excelente memória".

Fora das terras de Putin, porém, o Noopept ainda não foi aprovado, ou sequer analisado, para o uso humano por agências sanitárias. Por isso, em teoria, o Noopept não poderia ser comercializado. Nessas condições, seu consumo não é recomendado.

Adam McDonald, irlândes e com Mestrado em Ciências Nutricionais (sic) aventurou-se a usar a substância apesar desses riscos e, ao fim de 30 dias, publicou uma "resenha" de sua experiência no Youtube. Ele conta que decidiu avaliar objetivamente a eficácia da substância como melhorador intelectual - para isso, usou testes cognitivos da Universidade de Cambridge, disponíveis online. Os testes refletem o desempenho em áreas de raciocínio, proficiência verbal, concentração e memória.

"Eu não estava ficando mais inteligente, nem aumentando meus pontos em nenhuma das áreas", conta ele. "Foi quando eu comecei a duvidar dos seus efeitos, ou ao menos em pessoas saudáveis". Por outro lado, ele afirma que sentiu um benefício na ansiedade. "Também pareceu elevar um pouco o humor (...)", adiciona, relatando também efeitos como maior motivação para trabalhar, embora note que esses benefícios não foram tão notáveis quanto ao de outros suplementos.

O que realmente se sabe sobre essa substância? Confira aqui uma revisão completa sobre o Noopept.