domingo, 31 de janeiro de 2016

Batalha das tiaminas - as diferentes forma da vitamina B1 (PARTE III)

ATENÇÃO: o uso de suplementos deve ser orientada por um nutricionista. Fármacos de prescrição só devem ser usados sob recomendação médica. Esse artigo tem apenas fins informativos e não deve ser usado como conselho médico.

Benfotiamina - promissora, mas incerta


No último artigo, eu falei dos incríveis poderes da sulbutiamina no combate ao cansaço crônico e extremo. Outros efeitos da sulbutiamina residem na regulação do humor, no aumento das memórias de longo prazo, no aprimoramento da resistência física e na superação da disfunção erétil psicogênica. Agora, é hora de conferir a respeito da benfotiamina - outro derivado da vitamina B1.


Benfotiamina - um não-nootrópico, mas um antienvelhecimento

A benfotiamina também foi sintetizada como resultado do interesse japonês pela vitamina B1. Trata-se também de outro derivado da tiamina com características farmacocinéticas otimizadas. Ela, assim como a sulbutiamina, também apresenta grande afinidade por gorduras. Então, a benfotiamina é outro nootrópico, certo?

Errado. Ou, pelo menos, a versão mais aceita é a de que a benfotiamina não é psicoativa - mas mesmo isso começa a ser desconstruído.

Por enquanto, vou falar deste estudo que foi feito com ratos. Mesmo usando doses de 100 mg/kg, a benfotiamina só aumentou os níveis de tiamina de modo significativo no sangue e no fígado. Nada significativo em termos de cérebro. Enquanto a sulbutiamina é excelente em atingir o sistema nervoso cerebral (em especial o cérebro), a benfotiamina não tem essa qualidade.

Então, não, a benfotiamina não é (ou não seria) um nootrópico - porque ela não age no local onde nootrópicos deveriam agir. O que é indiscutível cientificamente é que ela possui ação demarcada em nervos periféricos - daí o sucesso da benfotiamina em tratar algumas neuropatias, como a neuropatia diabética e a neuropatia alcoólica.
Os produtos de glicação avançada (AGE, na sigla em inglês) são formados em excesso em dietas ricas em açúcares
Animação: Morinda University
Em termos de biohacking, a benfotiamina seduz aqueles que buscam retardar o envelhecimento. Isso porque ela inibe algo chamado de "produtos de glicação avançada". Trata-se de algo natural ao nosso metabolismo - mas que, em excesso (por fatores como tabagismo, alto consumo de açúcares), deflagra um processo inflamatório e também promove ataques oxidativos. Isso é um dos gatilhos para o envelhecimento celular, enrijecimento de artérias e mais um tanto de coisas ruins.

A benfotiamina ajuda no combate aos AGEs
Animação: Morinda University
A benfotiamina tem notável sucesso em pôr fogo contra tais produtos de glicação avançada - chegando a triplicar os níveis da enzima que os degradam. Isso garante proteção ao sistema cardiovascular e nervoso, pensando em longo prazo. É também um mecanismo promissor em aumentar a longevidade.

Possíveis benefícios cognitivos da benfotiamina
Agora voltemos um pouco atrás. Como eu disse, há cientistas que defendem que a benfotiamina age, sim, no cérebro. Mas tem mais que isso: a galera levanta a bandeira de que ela tem "benefícios poderosos" no enfrentamento até mesmo do Alzheimer.


Numa publicação científica de 2010, pesquisadores chineses testaram a benfotiamina num modelo animal que imitava a doença de Alzheimer. Induziram um acúmulo de uma proteína que é um dos marcadores da doença - a beta-amilóide. Nesse cenário, eles notaram que a benfotiamina aumentou, sim, os níveis de vitamina B1 no cérebro.


Além de publicarem o achado controverso de que a benfotiamina é, na verdade, psicoativa, os cientistas foram além. Eles mostraram que os ratos tratados com benfotiamina experimentaram sinais de melhora cognitiva - inclusive com ganhos na memória espacial.

O que consegue arregalar mais ainda os olhos foi o efeito da benfotiamina nas placas amiloide. Essa é uma característica consistente com o avanço implacável dos sintomas da doença de Alzheimer. A benfotiamina não apenas impediu a progressão da deposição de amiloide, como foi capaz de reduzir o acúmulo dessa proteína. Isso é consistente com reverter o curso do Alzheimer - e não poderia ser mais intrigante.

É claro que muita repercussão foi gerada. Tanto que um ensaio clínico já está investigando os efeitos da benfotiamina em voluntários com Alzheimer, nos EUA. Os resultados, porém, só devem sair em novembro de 2019. Mais informações aqui.

Conclusão
A tiamina ou vitamina B1 é um nutriente fundamental - entre muitos outros nutrientes - para que seu metabolismo cerebral funcione do jeito certo. A tiamina participa da conversão dos alimentos em energia (na forma da molécula ATP). Além de sua função no metabolismo energético, ela toma parte na síntese dos neurotransmissores acetilcolina e GABA.

A sulbutiamina é um derivado de tiamina que consegue chegar às suas células cerebrais com notável eficiência. E, diferente da tiamina em sua forma simples, consegue exercer efeitos muito distintos em neurotransmissão, melhorando o humor e a memória. É usado terapeuticamente como um anti-astênico.

Já a benfotiamina, apesar de ter possíveis benefícios nootrópicos que estão sob investigação, não é geralmente considerada psicoativa. Sabemos ao certo que ela age no tecido periférico, combatendo os efeitos nocivos dos produtos de glicação avançada. Esses agentes, em excesso, promovem a inflamação.

TEXTO: Matheus Pereira
IMAGENS: Thauan Mendes

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4 comentários:

  1. Parabéns peelo blog amigo.Estou usando o cognitus.Em breve,gostaria de ouvir alguma orientação sua.

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    1. Hugo, obrigado pelos parabéns!
      Infelizmente, eu não posso fazer qualquer tipo de orientação individual sobre a toma de suplementos ou medicamentos - isso cabe apenas ao médico, fora do campo virtual. No entanto, me disponho a responder dúvidas genéricas sobre a Bacopa monnieri, princípio ativo do medicamento Cognitus, com intenção apenas informativa. Direcionamentos pessoais, mais uma vez, são oferecidos pelo médico. Obrigado por compreender. Abraço

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  2. Mateus, parabéns pelo blog. Conheci semana passada e estou lendo muitos dos artigos. Sei que você sempre recomenda orientação profissional, mas apenas como observação pessoal, o que você acha da combinação "Nootropil+Arcalion"?
    Desde já, muito grato pela sua atenção.

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    1. Anônimo, obrigado! Fico feliz que meus artigos tenham prendido a sua atenção.

      Respondendo tardiamente, eu entendo que a sulbutiamina e o piracetam são predominantemente independentes. Enquanto a sulbutiamina é oficialmente indicada para o tratamento da astenia (estafa, cansaço excessivo, com perda de motivação), tendo efeitos estimulantes moderados; o piracetam é indicado para melhorar as funções cognitivas - em especial quando já comprometidas (com efeitos mais notáveis na memória e capacidades verbais e, segundo a bula, raciocínio e atenção).

      Há algumas intercessões e sinergias numa análise mais profunda. Além de atuar como anti-astênico, secundariamente, a sulbutiamina demonstra alguns benefícios na memória de longo-prazo e na memória visual, segundo exames pré-clínicos; e na memória episódica, em pacientes com Alzheimer. Acredita-se que os benefícios da sulbutiamina na memorização sejam mediados, entre outros, pela sua atuação no sistema colinérgico. A sulbutiamina favorece a recaptação de colina (HACU) no hipocampo, uma região do cérebro com papel de destaque na consolidação de memórias. Isso permite que as células colinérgicas "reabsorvam" a colina e tenham mais material, em menos tempo, para produzir novamente a acetilcolina (neurotransmissor que participa em especial dos estágios iniciais da memorização, com a codificação de informações). O piracetam, em seu turno, parece aumentar a liberação de acetilcolina no hipocampo, ao mesmo tempo em que aumenta a concentração de colina nessa mesma região do cérebro (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/7301036).

      Teoricamente, isso seria uma interação positiva para alguém que não tenha um sistema colinérgico dominante. Veja: o piracetam aumentaria a liberação de acetilcolina que, então, é quebrada em colina e num radical acetil. A sulbutiamina acelera a reabsorção da colina, de modo que a célula colinérgica possa produzir, novamente, a acetilcolina. É como se a sulbutiamina desse suporte para os efeitos da ativação do sistema colinérgico, frutos do piracetam (que poderia, sem tal suporte - ou o suporte de uma suplementação de colina, colocar pressão na disponibilidade de colina).

      Isso em teoria. A sulbutiamina também aumenta a densidade de receptores glutamatérgicos (de modo que, com o uso em longo prazo da sulbutiamina, você tenha mais receptores de glutamato). Já o piracetam se encaixa em subunidades de receptores AMPA - um dos receptores de glutamato; tendo também, possivelmente, efeitos nos receptores NMDA - também de glutamato. Teoricamente, em moderação, isso poderia favorecer a construção de memórias.

      Além disso, tanto o piracetam quanto a sulbutiamina exercem efeitos neuroprotetores, em especial contra a baixa oxigenação ou a baixa disponibilidade de glicose.

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