quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Nó-de-cachorro: nootrópico e afrodisíaco?


Todo dia de manhã, antes de começar o batente, João da Cruz Oliveira, 62 anos, lavrador em Poconé, Mato Grosso, toma uma talagada de cachaça misturada com a raiz de uma planta conhecida como nó-de-cachorro. (...) Uma dose por dia, numa xícara de cafezinho, energiza as crianças preguiçosas, fortifica a memória, diminui o colesterol e, garantem os pantaneiros, previne a impotência sexual.
Os nomes para a planta quase milagrosa acima são muitos: além de nó-de-cachorro (porque alguém com pensamentos bizarros disse que a raiz parecia com o pênis canino) e raiz de Santo Antônio. A ciência também não deixa passar despercebida a fama: chama a planta de Heteropterys aphrodisiaca. Nome sugestivo.

E vem de longa data. Em 1929, o Estado de Mato Grosso alertou a cientistas que os ramos eram "louvados" como "tônico afrodisíaco". Em 1949, finalmente foi identificada a espécie, descrita como "planta medicinal útil principalmente como afrodisíaca e contra o esgotamento nervoso", contra o desânimo e revigorando mente e corpo. Mas será que a ciência concorda com esse uso popular?


Efeito antioxidante
Pesquisadores começaram a destrinchar essas alegações do povo - levando o nó de cachorro ao laboratório para verificar seus efeitos à luz da ciência. Notaram que ele é rico em polifenóis, compostos alimentares que tem efeito neuroprotetor.

Para entender: tirando a água, 60% do peso da gelatina que é seu cérebro é de gordura (fundamental para a comunicação nervosa). Qualquer dano à essa "banha" pode, com o tempo, deixá-la rançosa feito manteiga fora da geladeira - levando a prejuízos à memória e à atenção. E como isso ocorre?

Bom, seu cérebro tem um monte de usinas produzindo energia a todo vapor. Dessa queima, gera-se naturalmente radicais livres - terroristas que danificam e oxidam aquilo que tocam (se gordura, fica rançosa). Contra isso, seu cérebro tem um Exército de antioxidantes. O nó-de-cachorro - que fornece antioxidantes alimentar - entra em cena quando o Exército cerebral está em desvantagem, insuficiente para sequestrar os radicais livres.

Tal processo é chamado de estresse oxidativo -  raiz do envelhecimento, da gradual perda da vitalidade, do declínio funções do cérebro e da degeneração neuronal. Pois bem: o nó-de-cachorro, em experimento, blindou a gordura do cérebro de ratos das lesões provocadas pelo ataque dos radicais livres, ao fornecer soldados extra ao cérebro.
Em ratos idosos, o nó-de-cachorro aumentou a produção de "soldado" antioxidante interno e natural: uma substância anti-envelhecimento chamada superóxido dismutase. Apesar do nome estranho, ela parece deter a falta de memória que chega com o passar dos anos, sendo considerada alvo para tratar o "declínio cognitivo provocado pela idade".

Contra perturbações da memória
E, como era de se esperar, o nó-de-cachorro melhorou o aprendizado e a memória de ratos idosos. Para ser mais correto, a planta restaurou essas funções ao "normal", de modo que animais idosos tivessem desempenho similar ao de jovens em testes de aprendizado. Os benefícios deram-se 45 dias após a ingestão do extrato e perduraram mesmo após o fim do tratamento.

Para testar a memória dos roedores, os animais foram colocados em uma caixa com compartimentos que levavam a uma isca. Dentro dela havia um equipamento que dava choques se os bichos encostassem o nariz no local, instalado próximo ao alimento. Os ratos jovens aprenderam rapidamente que não deviam atravessar a caixa, mas os idosos demoraram um pouco para perceber isso.

Depois, durante sete dias todos os animais beberam um líquido à base do extrato da planta nó-de-cachorro. Novamente, eles foram testados. Só que dessa vez os ratos idosos aprenderam a lição tão bem quanto os jovens.

"O extrato apresentou marcante atividade antioxidante, que poderia contribuir para seus efeitos benéficos na memória", concluíram os pesquisadores.

Viagra Pantaneiro
Mas e a fama de afrodisíaco, que é o principal uso popular do nó-de-cachorro? Tem validação científica? O que se tem de mais claro é que o nó-de-cachorro aumenta os níveis de testosterona - e protege os culhões.

Por exemplo, o extrato protegeu roedores da ciclosporina, medicamento que é usado para frear o sistema imunológico, mas que acaba diminuindo a formação de espermatozoides. Ratos que usaram a ciclosporina com nó-de-cachorro, porém tiveram danos testiculares mínimos.

Em outro experimento, o nó-de-cachorro aumentou o número de células produtoras de testosterona e a massa corporal de roedores - levando autores a suspeitar de um efeito androgênico. A confirmação veio em estudo mostrando que o nó-de-cachorro aumenta os níveis de testosterona nos animais.

Efeito anabolizante e melhora do desempenho físico
Coerente com sua capacidade de elevar a testosterona, o nó-de-cachorro pode ajudá-lo a ficar mais "bombado", sugerem estudos. O extrato aumentou a área das fibras musculares. Também aumentou a capacidade de produção energética muscular - com mais vascularização e mitocôndrias no tecido muuscular.

O nó-de-cachorro também promoveu benefícios aos tendões - com incremento nas fibras de colágeno e de sua organização para um padrão mais resistente. Desse modo, esses ratos conseguiram suportar a tensão de contrações musculares mais vigorosas ou repetitivas, evitando lesões de treino. "Apesar dos claros efeitos anabólicos, nenhum efeito colateral foi notado", relatam os pesquisadores.

O nó-de-cachorro também melhorou a performance, num teste de treino até à exaustão, em roedores - sem toxicidade.


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