Um composto experimental é divulgado como promessa para turbinar aprendizado e memória. Mas o que, de fato, se sabe sobre o PRL-8-53?
Por sugestão de um leitor, fui conferir sobre um suposto milagroso ativador da memória: o PRL-8-53. Basta tascar esse nome curioso no Google para encontrar títulos sensacionais. Exemplo: "Um potenciador da memória tão poderoso que chega a ser ridículo", anuncia um website. Em português, outra busca prega: "memória até 200% melhor".
Por sugestão de um leitor, fui conferir sobre um suposto milagroso ativador da memória: o PRL-8-53. Basta tascar esse nome curioso no Google para encontrar títulos sensacionais. Exemplo: "Um potenciador da memória tão poderoso que chega a ser ridículo", anuncia um website. Em português, outra busca prega: "memória até 200% melhor".
Para mim, soa tentador dar um upgrade no meu HD mental de 100 GB (ou sabe-se lá qual medida) e chegar a uns 300 GB. Então, fui pesquisar um pouco mais a fundo sobre o PRL-8-53. Contrariando minhas expectativas, há uma secura de informações sobre o tal composto nas publicações científicas.
O fascínio inicial com o PRL-8-53
Vamos lá, senta que vem um pouco de neurohistória, das antigas. Há quase meio século, com o farmacêutico estadunidense Nikolaus Hansl. Que Deus o tenha, o doutor faleceu em 2011. (Um parênteses de silêncio).
Mas o doutor Hansl, a partir de trabalhos em laboratório, nos deixou um legado: criou uma nova molécula com propriedades psicotrópicas - patenteada em 1973.
O nome de batismo, 3-(2-benzylmethylamino ethyl) Benzoic Acid Methyl Ester Hydrochloride, para nossa alegria, deu lugar a um apelido mais simples, o número de série PRL-8-53. Hansl descreveu que seu composto tinha poderoso efeito contra cólicas. Mas focou em outra propriedade: o PRL-8-53 deixava ratos mais "inteligentes" [1].
O fascínio inicial com o PRL-8-53
"Funcionamento do cérebro e memória ganham um up de composto chamado PRL-8-53", anuncia edição de 6 de setembro de 1979 do Baltimore Sun |
Nikolaus Hansl |
Mas o doutor Hansl, a partir de trabalhos em laboratório, nos deixou um legado: criou uma nova molécula com propriedades psicotrópicas - patenteada em 1973.
O nome de batismo, 3-(2-benzylmethylamino ethyl) Benzoic Acid Methyl Ester Hydrochloride, para nossa alegria, deu lugar a um apelido mais simples, o número de série PRL-8-53. Hansl descreveu que seu composto tinha poderoso efeito contra cólicas. Mas focou em outra propriedade: o PRL-8-53 deixava ratos mais "inteligentes" [1].
Num grupo de animais, Hansl notou que 16% completaram uma tarefa de memória adequadamente ao usarem um placebo. Mas os roedores que receberam 20 mg/kg da droga experimental, de ação colinérgica e dopaminérgica, teve um desempenho bem melhor - 40% dos animais completaram o teste. Suficiente para explorar os efeitos nos humanos.
Memória mais afiada: aprendizado e recordação
Para isso, Hansl recrutou 47 universitários saudáveis. Apresentou-os uma lista de palavras sem sentido - eles deveriam decorar o máximo possível. Hansl, então, comparou o resultado das sessões em que os universitários usaram 5 mg de PRL-8-53 com sessões em que estavam usando pílulas placebo, sem a droga [2].
Alguns resultados foram fantásticos. Quando usaram o PRL-8-53, os estudantes conseguiam aprender e também recordar um número maior de palavras. Isso mesmo 4 dias após ouvir a lista de vocábulos. E ainda recitando as palavras na mesma ordem em que foram apresentadas.
Em suma: as informações aprendidas sob o efeito do PRL-8-53 eram guardadas a sete chaves na mente. Melhor consolidadas, podiam ser resgatadas depois com mais facilidade mesmo dias depois. As pessoas aprendiam melhor.
Ganho de 152% na retenção de informação verbal
Os efeitos foram ainda mais expressivos naqueles que tinham uma memória mais enferrujada e em pessoas acima de 30 anos. Eles decoraram o dobro de palavras do que quando usaram placebo. Em alguns casos, o desempenho na memorização melhorou 152%.
"A retenção da informação verbal melhorou de forma significativa", nota Hansl. Porém, em outros testes - como de controle motor ou tempo de reação - o PRL-8-53 não demonstrou efeito significativo.
Os voluntários também foram questionados se sentiram algum efeito adverso após o uso das pílulas. Porém "nenhum efeito colateral foi relatado", escreveu o cientista. Em comunicações com a imprensa, Hansl informou que a droga começava a agir em 30 minutos e permanecia ativa por cerca de sete horas.
O declínio do PRL-8-53: expectativas e realidade
Em 1980, numa entrevista ao Leader-Telegram, o doutor Nikolaus Hansl disse ter expectativa de que o composto "eventualmente" chegasse às prateleiras das farmácias. "O composto poderia ajudar aqueles em situações intelectualmente estressantes, como empresários e estudantes que querem desempenhar melhor suas tarefas", contemplou.
Mas reconheceu um problema que permanece até hoje: "para isso, é preciso uma avaliação mais profunda da segurança" do composto. E é esse o X da questão. Em termos científicos, isso é tudo que sabemos sobre o PRL-8-53 - é muito pouco, tanto em eficácia quanto segurança. A ação da droga em outras áreas das funções intelectuais são desconhecidas.
Contrariando as expectativas de Hansl, não houve investimentos para as pesquisas avançarem. E, com a patente vencida, o futuro não é promissor. Ainda assim, o PRL-8-53 é vendido a torto e a direito em websites do mundo todo - fabricado em alguns laboratórios obscuros, sem qualquer tipo de licença para a síntese de compostos para consumo humano. Exemplo abaixo - e não é para fins de marketing.
Em termos simples: trata-se de uma droga experimental, e uma bem interessante. Mas não há fornecedor legítimo para a mesma. E tanto por questões sanitárias quanto pelos poucos testes sobre sua toxicidade, seu uso é uma verdadeira roleta russa.
"Substância que mudou minha vida" - a roleta-russa
Ainda assim, há cobaia para tudo. Quem se dispõe a experimentar o composto relata que as memórias formadas sob o efeito do PRL-8-53 grudam como chiclete - são claras e vívidas. Para eles, a droga tem um poder tremendo em fixar informações na mente.
Um usuário do PRL-8-53 - e também experimentador de vários outros nootrópicos (melhoradores cognitivos) - conta que sempre enfrentou alguns probleminhas de memória de curto-prazo. Nada patológico, algo no estilo de "onde deixei as chaves?". Mas, ao utilizar doses de 10 a 20 mg de PRL-8-53, "minha memória melhorou de forma massiva e sem esforço", conta, num fórum online.
Ele relata que em aulas, consegue facilmente lembrar, palavra por palavra, na exata entonação, os últimos 20-30 segundos da fala do professor. "Minha habilidade de ler rapidamente, entender e conectar conceitos é amplamente melhorada (...) porque agora eu posso automaticamente relembrar frases inteiras do que apenas poucas palavras". Chega a chamar o composto de "uma substância que mudou minha vida".
Esse relato esbarra em problemas como a interação com outras substâncias, mas segue o mesmo estilo de anedotas contadas por outros usuários do PRL-8-53.
Resta ver se esse composto - ou algum de estrutura similar - será oficialmente desengavetado um dia nas publicações científicas. Até lá, roleta russa.
Memória mais afiada: aprendizado e recordação
Para isso, Hansl recrutou 47 universitários saudáveis. Apresentou-os uma lista de palavras sem sentido - eles deveriam decorar o máximo possível. Hansl, então, comparou o resultado das sessões em que os universitários usaram 5 mg de PRL-8-53 com sessões em que estavam usando pílulas placebo, sem a droga [2].
Alguns resultados foram fantásticos. Quando usaram o PRL-8-53, os estudantes conseguiam aprender e também recordar um número maior de palavras. Isso mesmo 4 dias após ouvir a lista de vocábulos. E ainda recitando as palavras na mesma ordem em que foram apresentadas.
Em suma: as informações aprendidas sob o efeito do PRL-8-53 eram guardadas a sete chaves na mente. Melhor consolidadas, podiam ser resgatadas depois com mais facilidade mesmo dias depois. As pessoas aprendiam melhor.
Ganho de 152% na retenção de informação verbal
Os efeitos foram ainda mais expressivos naqueles que tinham uma memória mais enferrujada e em pessoas acima de 30 anos. Eles decoraram o dobro de palavras do que quando usaram placebo. Em alguns casos, o desempenho na memorização melhorou 152%.
"A retenção da informação verbal melhorou de forma significativa", nota Hansl. Porém, em outros testes - como de controle motor ou tempo de reação - o PRL-8-53 não demonstrou efeito significativo.
Os voluntários também foram questionados se sentiram algum efeito adverso após o uso das pílulas. Porém "nenhum efeito colateral foi relatado", escreveu o cientista. Em comunicações com a imprensa, Hansl informou que a droga começava a agir em 30 minutos e permanecia ativa por cerca de sete horas.
O declínio do PRL-8-53: expectativas e realidade
Em 1980, numa entrevista ao Leader-Telegram, o doutor Nikolaus Hansl disse ter expectativa de que o composto "eventualmente" chegasse às prateleiras das farmácias. "O composto poderia ajudar aqueles em situações intelectualmente estressantes, como empresários e estudantes que querem desempenhar melhor suas tarefas", contemplou.
Mas reconheceu um problema que permanece até hoje: "para isso, é preciso uma avaliação mais profunda da segurança" do composto. E é esse o X da questão. Em termos científicos, isso é tudo que sabemos sobre o PRL-8-53 - é muito pouco, tanto em eficácia quanto segurança. A ação da droga em outras áreas das funções intelectuais são desconhecidas.
Contrariando as expectativas de Hansl, não houve investimentos para as pesquisas avançarem. E, com a patente vencida, o futuro não é promissor. Ainda assim, o PRL-8-53 é vendido a torto e a direito em websites do mundo todo - fabricado em alguns laboratórios obscuros, sem qualquer tipo de licença para a síntese de compostos para consumo humano. Exemplo abaixo - e não é para fins de marketing.
Em termos simples: trata-se de uma droga experimental, e uma bem interessante. Mas não há fornecedor legítimo para a mesma. E tanto por questões sanitárias quanto pelos poucos testes sobre sua toxicidade, seu uso é uma verdadeira roleta russa.
"Substância que mudou minha vida" - a roleta-russa
Ainda assim, há cobaia para tudo. Quem se dispõe a experimentar o composto relata que as memórias formadas sob o efeito do PRL-8-53 grudam como chiclete - são claras e vívidas. Para eles, a droga tem um poder tremendo em fixar informações na mente.
Um usuário do PRL-8-53 - e também experimentador de vários outros nootrópicos (melhoradores cognitivos) - conta que sempre enfrentou alguns probleminhas de memória de curto-prazo. Nada patológico, algo no estilo de "onde deixei as chaves?". Mas, ao utilizar doses de 10 a 20 mg de PRL-8-53, "minha memória melhorou de forma massiva e sem esforço", conta, num fórum online.
Ele relata que em aulas, consegue facilmente lembrar, palavra por palavra, na exata entonação, os últimos 20-30 segundos da fala do professor. "Minha habilidade de ler rapidamente, entender e conectar conceitos é amplamente melhorada (...) porque agora eu posso automaticamente relembrar frases inteiras do que apenas poucas palavras". Chega a chamar o composto de "uma substância que mudou minha vida".
Esse relato esbarra em problemas como a interação com outras substâncias, mas segue o mesmo estilo de anedotas contadas por outros usuários do PRL-8-53.
Resta ver se esse composto - ou algum de estrutura similar - será oficialmente desengavetado um dia nas publicações científicas. Até lá, roleta russa.
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