sábado, 28 de outubro de 2017

O que tem de novo: oxiracetam protege o cérebro da falta de oxigênio


De alguns meses para cá, tem pipocado novos estudos avaliando a eficácia dos nootrópicos. O melhor de tudo: muitos deles em humanos. Algumas substâncias, embora muito usadas, ainda são bem obscuras quando lançamos um olhar puramente científico. 

O lançamento de novas publicações ajuda a aumentar a nossa confiança nos nootrópicos. Nesse e nos  próximos artigos, irei divulgar as pesquisas mais recentes e relevantes sobre melhoradores cognitivos. Quem está em foco hoje é o oxiracetam, primo mais novo do piracetam.

Artigo

Um estudo publicado em março desse ano levou homens (de 18 a 36 anos) das Forças Armadas da China a mais de 4000 metros acima do nível do mar. 20 deles usaram oxiracetam numa dosagem de 800 mg, 3 vezes ao dia, enquanto outros 20 não usaram nada. "Ok, Matheus, e qual o objetivo do cenário desse estudo ser no alto de uma montanha?".


Não é à toa que eles tiveram que escalar tanta coisa (os militares saíram de uma cidade de 1800 m de altitude). Você já deve saber: seu cérebro tem tesão por oxigênio. Para manter as redes neuronais funcionando à todo vapor, haja ATP - a "energia" da célula, que só pode ser produzida por meio da queima de glicose (açúcar), com o uso do oxigênio. Mas esse ingrediente vital falta nas altas altitudes. 

E, daí, processos cognitivos como memória e concentração são prejudicados por um certo tempo em quem passeia pelos Alpes. É o mal da montanha - que só passa depois de um período em que o corpo se acostuma com a baixa saturação de oxigênio. A ideia do estudo era ver se o oxiracetam poderia dar um up no desempenho cognitivo mesmo nessa situação adversa. 

Para isso, os dois grupos passaram por uma bateria de exames cognitivos - para avaliar memória e atenção, por exemplo. Depois disso, aqueles 20 voluntários começaram o uso de oxiracetam dias antes e, então, todos os voluntários iniciaram o alpinismo. 

Depois de nove dias a 4000 metros de altura, foi hora de todas as cobaias irem para mais um monte de testes para se comparar o joio com o trigo. Como era esperado, todos os participantes experimentaram uma redução do desempenho intelectual quando os resultados foram comparados com os mesmos exames feitos antes da escalada.

Mas o pulo do gato é que aqueles que haviam usado o oxiracetam experimentaram uma perda menor nas pontuações em exames que avaliavam a velocidade de processamento sensorial, foco e memória. 

Mais interessante ainda foi a descoberta de que, naqueles que não usaram o oxiracetam, houve um aumento do fluxo sanguíneo no tronco encefálico. Essa é uma área primitiva do encéfalo, que atua na manutenção dos sinais vitais básicos. 

Esse aumento de fluxo vinha às custas de uma redução da irrigação sanguínea das áreas responsáveis pelas funções cognitivas superiores (como a atenção). Ou seja: o sangue que deveria banhar o córtex cerebral era desviado para o tronco encefálico. É como se as altas alturas ligassem um modo de sobrevivência: o pouco oxigênio é priorizado para aquelas áreas do cérebro mais críticas à sobrevivência.

Por outro lado, quem usou o oxiracetam teve um incremento no fluxo sanguíneo global - ou seja, houve uma vasodilatação em mais artérias cerebrais.

"Achado legal, Matheus. Mas pra que isso me importa se eu vivo na Cidade Maravilhosa? Se eu usar oxiracetam, poderei prender a respiração por mais tempo?". Ainda para quem vive a nível do mar, um nível de oxigenação cerebral subótimo pode ser desengatilhado por fatores como baixa exposição solar (comum na nossa era heliofóbica), estresse em excesso e inflamação crônica.

É possível que o oxiracetam restabeleça a perfusão cerebral ideal, melhorando a oferta de nutrientes às células nervosas ao nível dos capilares sanguíneos. Essa facilitação da microcirculação garantirá os combustíveis para um desempenho cognitivo melhor. O resultado do estudo também implica num efeito neuroprotetor do oxiracetam - o que desperta interesse.

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4 comentários:

  1. Mateus sou TDAH e os medicamentos como ansiolítico/antidepressivo e a ritalina são bons, porém com efeitos colaterais bem desagradáveis. Irei passar em consulta com o psiquiatra novamente para começar o desmame. Gostaria de experimentar os "racetans". Leio seu site regularmente, li seu livro e gostaria de uma ajuda: fora as informações dos medicamentos, há alguma coisa que vc indicaria perguntar ao médico? Agradeço de antemão.

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    1. Aline, o desmame de antidepressivos e da Ritalina deve ser bem ponderados e discutidos com o médico. Os seguintes nootrópicos demonstram benefício em ensaios clínicos para populações diversas com TDAH: piracetam (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18833117), fosfatidilserina (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23495677), l-teanina (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22214254), Pycnogenol, Ginseng e Bacopa (revistos em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4757677/). Contudo, o nível de evidência continua sendo mais forte para a Ritalina.

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    2. PS: Sobre o que perguntar, é justamente considerar se vale a pena fazer e se informar sobre os riscos e benefícios de fazê-lo.

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    3. Olá Mateus, conversei com o médico, que me falou que seria interessante tentar. Passei a ele seu site, pois acredito que tenha um conteúdo bem explicativo. O Cognitus já estou tomando há um tempo e com grande proveito. De qualquer maneira, se vc quiser, posso sempre passar nos comentários para deixar minhas impressões sobre os medicamentos. Obrigada pela atenção.

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